Turvo

A pupila opaca vertiginava

um véu glacial que sucumbia

pelos corredores

de envelhecidas madeiras.

Disse-me a criança, absorvida,

um monte de mentiras suspirantes,

certas como as flores que cerravam

os ventos tubulares

e o cômodo

inteiro

jazia o indizível silêncio.

Desce-lhe do globo branco

um filamento de pavor de um mar revolto,

a língua apontava para os soluços

misturados a imobilidade dos pés

como pólipos segmentados por nada.

O ato interminável de me tatear

as pernas arrancava

do imaterial a cólera

ajuda-me...

ajuda-me!

A aproximação latente

turvo, tudo é turvo tudo é turvo.

Sigo no mesmo retrato como se tivesse

cera nos tímpanos, meus passos correm

pelas erosões no concreto, a civilização

passa e o tempo liquefeito correu

para detrás dos exílios da mente

junto ao hábito dos coveiros

Nada muda,

esta inodora instabilidade

afunilando os sentimentos

empalados nos alvéolos.

A cruz solitária do deserto

corpóreo

vasculhava

caminhos em meus signos

vermiformes,

e até

outras obras

d'outros sísmicos inícios

da sacra visão efêmera

de uma criança com medo

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 01/06/2014
Reeditado em 10/11/2014
Código do texto: T4828367
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