Duelo de Deus e o Diabo no Reino da Poesia

Numa cena avessa e distorcida

Eu sonhei com o fim, o desenlace,

Eu vi Deus e o Diabo, face a face,

Eles dois duelando na avenida

Por esta vagabunda e torpe vida

Esgotaram o arsenal completamente.

Escapei da chacina e virei crente

Sem prever que depois eu pecaria

O pecado mortal da fantasia

Condenando-me ao breu eternamente.

Peço aos céus que me puna docemente,

Não com a pena imposta a Galileu,

Cientista do sol que descreveu

Lei dos corpos, punido cruelmente.

Se tivesse em verso complacente

Dito claro que a terra é quem se move,

Essa arte poética que socorre

O artista que dela tem domínio,

Barraria o soturno vaticínio

Que das bulas papais, cruento, escorre.

No duelo de Deus e do Diabo

As esgrimas terçavam pura arte,

Indo e vindo em Vênus e em Marte

Com o Divino ganhando a guerra ao cabo.

Satanás empenhou até o rabo,

Mas perdeu por pobreza do seu verso,

Pela força da língua submerso,

Humilhado na estética divinal,

Imolado na pedra filosofal,

Sucumbiu com seu estro vil, perverso.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 29/05/2014
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