Duelo de Deus e o Diabo no Reino da Poesia
Numa cena avessa e distorcida
Eu sonhei com o fim, o desenlace,
Eu vi Deus e o Diabo, face a face,
Eles dois duelando na avenida
Por esta vagabunda e torpe vida
Esgotaram o arsenal completamente.
Escapei da chacina e virei crente
Sem prever que depois eu pecaria
O pecado mortal da fantasia
Condenando-me ao breu eternamente.
Peço aos céus que me puna docemente,
Não com a pena imposta a Galileu,
Cientista do sol que descreveu
Lei dos corpos, punido cruelmente.
Se tivesse em verso complacente
Dito claro que a terra é quem se move,
Essa arte poética que socorre
O artista que dela tem domínio,
Barraria o soturno vaticínio
Que das bulas papais, cruento, escorre.
No duelo de Deus e do Diabo
As esgrimas terçavam pura arte,
Indo e vindo em Vênus e em Marte
Com o Divino ganhando a guerra ao cabo.
Satanás empenhou até o rabo,
Mas perdeu por pobreza do seu verso,
Pela força da língua submerso,
Humilhado na estética divinal,
Imolado na pedra filosofal,
Sucumbiu com seu estro vil, perverso.
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