O maior poema do mundo

O maior poema do mundo

não é “Os Luzíadas“

de Camões,

“A Eneida” de Virgilio,

“A Odisséia”, “A Ilíada” de Homero

ou “A Divina Comédia” de Dante.

O maior poema do mundo

não cabe no oceano

de águas profundas

nem em todos

os sete mares

ao redor dos continentes...

O oceano

de águas profundas

e todos os sete mares

ao redor

dos continentes

são muito pequenos!

O maior poema do mundo

nada em um oceano

protegido por um escudo incolor

e só pode ser escrito

com a ajuda das forças

do princípio do contraditório!

E é tão imenso

que não pode ser visto

pelas potentes lentes do Hubble,

mas está a nosso alcance

e para escrevê-lo, não precisamos

de nenhum telescópio,

mas da parceria espontânea

de dois autores,

que se completam.

O maior poema do mundo

não pode ser escrito

por uma única poetisa ou poeta.

E é fácil fazê-lo;

difícil é qualificá-lo

para que sobreviva bem entre os leitores.

O maior poema do mundo

quando está pra ser escrito,

já pode ser examinado

por um microscópio

de altíssima

resolução.

O maior poema do mundo

vai crescer, crescer, e um dia vai sair

do seu "santuário".

Poderá ser um grande poema

como Irmã Dulce

tão aparentemente frágil,

um grande poema

como Grande Otelo, Pelé,

Martin Luther king, ou Mandela...

Ou poderá ser,

Simplesmente,

um poema grande.

O maior poema do mundo

é tão imenso que não teremos

tempo para nós, só pra ele,

e nem condições

de sermos

idênticos.

O maior poema do mundo

é único,

uma obra prima.

E somos tão pequenininhos,

infinitas vezes menores que

o maior poema do mundo,

que não há escala

em anos luz

que possa comparar-nos,

nem em milímetros

ou em polegadas

de um paquímetro.

Nós passaremos a maior

parte de nosso tempo

tentando lê-lo

e relê-lo

para entendê-lo melhor

e nos doarmos.

Nós iremos monitorá-lo

vinte e quatro horas

todos os dias

do início

desde o início,

ao outro recomeço,

justamente

por ele ser,

o maior poema do mundo!

Tentaremos

refazê-lo;

melhorá-lo, acompanhá-lo,

mas nunca concluiremos

o maior poema do mundo;

ele é inconcluso.

A sua invenção

é constante

como o respirar.

Riremos juntos

e choraremos juntos

se preciso for.

Viveremos

com

o maior poema do mundo,

pelo maior poema do mundo

e para

o maior poema do mundo.

Em seus primeiros versos,

é preciso ter

autoridade para ajudá-lo

sem perder o controle

para que ele possa viver

em harmonia com os leitores

em suas estrofes,

em algum verso seu,

em uma palavra,

em suas sílabas poéticas,

nas suas primeiras letrinhas,

no seu rítmo,

na sua métrica,

no seu passo

e compasso.

O maior poema do mundo

tem a mais sonora das rimas.

Ele é incomensurável!

Ele é lindo!

Não importa se é um clássico,

uma redondilha, um soneto,

um cordel, épico ou erudito,

simples ou

popular.

Ele é formidável e vai aprendendo

com seus poetas, com seus leitores

e incorporando o seu próprio

conteúdo por si só.

O maior poema do mundo

é muito frágil, mas é protegido

por um santuário forte:

um balão incolor

cheio de água!

O maior poema do mundo

não escreve

só belos versos,

complexas estrofes,

enjambements,

ou sonoríssimas rimas.

O maior poema do mundo

escuta,

sente os sorrisos

e os choros,

dá chutes,

socos, e dorme...

O maior poema do mundo

é um poema a construir

seus versos

e não

se sabe

o final.

O maior poema do mundo

espera que o mundo

lhe ganhe.

O maior poema do mundo

espera que ninguém

lhe arranhe:

É um bebê que nasce,

o maior poema do mundo,

e cabe na mãe.