morte e vida... Severinas
morte e vida conversavam na sala de jantar:
- você tinha que existir mesmo
- você acha que é uma conseqüência natural,
problema de causa e efeito?
- é uma contingência
- mas não sou uma coisa incerta
pelo contrário, nada é mais certo que eu,
é o que dizem
- sim, mas durante algum tempo é,
ou pelo menos agente acha assim
morte e vida conversavam no banco da praça:
- sem você, eu não teria graça
- por que? você não teria fim?
- tudo acabaria no mesmo
e certamente com todos cansados, estafados,
com certeza nauseabundos
- na haveria possibilidade de alternâncias?
- e será que se satisfazem as ânsias?
morte e vida conversavam no bar, à beira da estrada:
- você, sempre na espera
- talvez na paquera,
mas sem mexer com ninguém
- não é preciso,
acabará conquistando todos mesmo!
morte e vida conversavam na praia, sob a luz do sol:
- faria diferença se estivéssemos sob a luz da lua?
- sob o ponto de vista
da disposição interplanetária acho que não
- e sob o ponto de vista
da movimentação dos astros?
- aí acho que sim. às vezes te vejo
mais aborrecida, menos graciosa
-acontece quando tu chegas por perto
- será que é porque não estás preparada pro ato?
- não sei, talvez porque quanto mais te desejo, menos te quero
- chegas a me desejar?
- às vezes, sim, num momento de lua
- por que então não esperas o sol?
- faço isso às vezes, e concluo que somos irmãs
- sábia conclusão
Rio, 04/05/2007