DO FIM AO COMEÇO. DO COMEÇO AO FIM
No começo ou no fim, é sempre difícil prosseguir.
Seja dar o primeiro passou ou a porta fechar.
Ninguém jamais no mesmo rio se banhará.
Tapando os ouvidos ou resguardando a alma o
dilema sempre vai reascender, sempre irá nos
chamar de volta para a segurança do que ficou,
ou da saudade que do restou.
Começando pelo fim ou terminando pelo começo,
a coexistência de ambos nos leva ao desaguar de
lágrimas, pensamentos e emoções ainda guardadas,
trancafiadas, do que um dia já foi, do que um dia
poderá ser.
Memórias, déjà vu, ambas são eternos fleches do
tempo do que eternizou-se, do que inevitavelmente
tornou-se atemporal, profundamente existencial,
guardado no instrospecto dos introspectivos que
vagam no medo do começo ou na sombra do final...
Na vida ou na morte, no último suspiro de razão,
ou de emoção, é preciso enxergar por entre o
nebuloso e o clarão, é preciso fechar e abrir o
passo, caminhar fora do compasso do linear
espaço, projetando-se até para outras
dimensões, mas sempre curvando-se,
para o elo de luz que reflete céu e chão,
matéria e emoção.
É preciso caminhar, dar o pioneiro passo...
É preciso coragem para retornar ao ponto de
partida, fechar a porta e as feridas do coração.
Não se pode eternamente viver paixões, ilusões
de outrora, regresso de pensamentos pretéritos
que nunca o futuro deixarão.
Feche a porta, refaça ligações, elos perdidos;
junte as migalhas do teu coração e permita-se
permitir, permita prosseguir rumo a uma nova
criação...
Feche a Porta... Respire e...
"O passado é mentira. Metade é feita de coisas
não passadas. A outra metade é feita de coisas
que nunca mais passarão." - Mia Couto.