Um naco.
Ninharia.
Bagatela.
Sedimento.
Resto.
Resíduo.
Resquícios.
Indícios e
vestígios.
O que era um e inteiro,
vira muitos e parciais...
De tudo sobrou muito pouco.
Ruínas.
Destroços.
Desmaterialização.
Tudo tão concreto e
hoje é somente abstrato.
Alheamento.
Abstração.
Subtração e furto.
Furto do tempo.
Gradativo,
crescente e
fatal.
Devaneio.
Ainda vejo o que existiu.
Nas paredes da memória.
Num filme lento e cômico.
Personagens me cumprimentam.
Eu simpaticamente respondo.
Logo eu
que nem sou simpática.
Esbarro no óbvio com desapego.
O alarido, balbúrdia e algaravia
ao fundo como trilha sonora
dos viventes...
Em meio a tanta coisa morta.
Minha surdez transforma tudo
em cinema mudo.
E fica tudo muito engraçado.
Traço uma poesia telepática.
Minha telecinesia particular
transporta corpos improváveis
para geometria ideal.
Altura e largura.
Medidas e tamanho.
Fita métrica.
Nada pode mensurar
Esse deserto interior.
Não há areia.
Não há sol.
Não temos céu ou terra.
E óbvio: nem água.
Não suamos.
Não choramos.
Não abandonamos restos.
Vai tudo com a gente.
Dentro da gente.
Até a última migalha.
A última palavra.
O último gesto
Que não sabia
que era o último.
Gesto tosco.
Uma coceira lírica.
Um prazer inóspito.
Espirro.
Terapia.
Tratamento.
Finitude espreita a vida.
Vida espreita o tempo.
Quem será o caçador?
Quem será o jardineiro?
Há placas alusivas sobre perigos.
Viver intensamente, mata.
Matar intensamente, sobrevive.
De qual lado da arena estamos?
Esse meu corpo de migalhas.
De partículas menores que o átomo.
E, o átomo não se divide.
E a molécula não se parte.
Tudo é tanto e
em tão pouco.
São porções mágicas.
São apenas migalhas.
Que nos salva da
dislexia emocional.