N E U R O S E

Vou ficar bem quieto,

para ver se um Anjo

me leva acima do Céu

que conhecemos;

somos tão insignificantes,

malvados, impuros, inconseqüentes,

egoístas, e estou cansando disso,

de tudo, de verdade;

minha visão está tolhida,

minha palavra cassada,

meu ouvido surdo

e minha mente perdida,

surtando, enlouquecendo;

andei por muitas estradas

nesta vida, comendo retas,

vencendo curvas,

subindo, descendo,

e ficava só ouvindo

o barulho surdo e rouco do vento

lambendo o meu rosto,

então feliz e sorridente;

hoje, não sou mais passado,

mas presente;

cada passo futuro

é um presente novo,

que talvez eu não esteja

sabendo valorizar ou compreender

ou retratar ou ser gente,

mais gente do que sou;

sofrer? sim, claro,

isso é a lógica dos vivos,

afinal, não estamos aqui,

apenas para sorrir;

difícil é quando não nos entendem,

ou nos imaginam ou nos julgam

ou nos condenam, a priori,

sem meios de defesa;

não sou como a barata,

nem como um rato,

mas, certamente,

posso morrer como um,

e, sem medo,

abraçado ao pé que me pisar!

(Tadeu Paulo - 2007)