o brilho do cometa
(homenagem ao maravilhoso livro “A Idade da Razão”,
de Jean-Paul Sartre)
o cometa está no armário
com cheiro de mofo, sem brilho
cheio de poeira
resolve sair, põe o pé pra fora
espana-se, tira um pouco da poeira
chega perto da janela aberta
contempla a vastidão do espaço
tira um pouco mais da poeira
liberta-se do cansaço
se projeta, alça vôo
e começa a ganhar brilho
vai reluzindo cada vez mais intensamente
até que, derradeiro brilho atingido,
chega ao encontro fatal
entre o homem e o arcanjo
e aí, com seu brilho total,
ele acompanha Daniel
e Mathieu fica pelo caminho
e seu brilho só é comparável
ao encontro da lua com o sol
como naquela fotografia
que a poeta me enviou
pronto: está concluída a viagem
está concluído o livro
chega-se à estação final
o cometa mais enxuto e reluzente
apontando simplesmente
pra Idade da Razão
Rio, 22/08/2006