OUTRO DE MIM

Tenho um eu

tão estranho a mim

que sua presença me assusta

Com ele duelo

a vida, como espadachim

troco tiros como Lampião

e driblo como Garrincha

O mundo cresce

o homem sofre

Tudo é nada

nesse caminhar lento e cansado

O peso do mundo

não dobra a espinha

A flor não faz o jardim

Tudo se auto-existe

é na dobradiça do tempo

que se avança

Meu outro eu

estranho a amigo

próximo e distante

meu oxigênio

meu sangue

Meu outro

pulsa a vida

empurra ladeira abaixo

e também

eleva às alturas

Canhões d'minha alma

explodem-me em pedaços

fragmentado em mil outros eus

O que será

O silêncio, só o silêncio

A mão toca o espelho gelado

faz de mim

apenas o reflexo, o outro

eu infinito, na imagem que vejo

Um nada; um tudo