CARONA COM A MORTE
A morte parou me olhou e, me disse com um tom autoritário :
--Entre no meu carro vou , te dar uma carona
Eu andava sem força e sem fé eu
não consegui dizer não pra morte
Ela abriu as portas do seu carro
era um veículo preto um típico
modelo funerário
Dentro do carro pude sentir o perfume
de flores mortas
a morte acelerou
Ela falou que iria me levar pra
dar um passeio dentro de mim
eu estático e monossilábico
disse-lhe sim...
A morte me levou pra dentro das
minhas entranhas
ela entrou rápido
Ela me mostrou de forma crua
como eu estava por dentro
apesar da minha fina estampa
por dentro eu estava feio
Vi meu amago cheio de pecados
vi minhas vaidades
vi meus egoísmos
vi minha ganância desmedida
Ela pisou mais fundo
ela subiu na minha mente
ali descobri que estava doente
vi que meu cérebro
só pensava em maldades
A morte me sorria de forma mórbida
ela deixou seu carro preto
despencar no meu abismo interior
era um desfiladeiro
que me deixava em desespero
Eu caia e a morte sorria
era uma angústia
era uma tristeza
eu assistia por dentro
a morte da minha vida
Eu estava pálido e gélido
vi minha vida passar
pelo retrovisor
vi minha vida sem luz
vi minha vida sem amor
De repente a morte pisou
no freio
ela deu uma freada brusca
Ela me olhou com uma cara desapontada
ela me falou com uma voz trágica:
--Acabou a carona chegamos
na última parada , chegamos nas batidas
do seu coração e , ele ainda é bom
ele ainda não foi contaminado pelos seus pecados
Tomara que na próxima carona você não tenha
essa mesma sorte
tomara que seus pecados mundanos
façam-te despencar nesse desfiladeiro
tomara que você não tenha mesma sorte
e na próxima carona
você morra no passeio com a morte