Pleno e vazio
Sou ampulheta virada para baixo
Vazia
O tempo bate do lado de fora
Aos gritos diz-me que falta areia
Que preencha-me de tempo
E eu não ouço o tempo bater
Sem perder sua natureza
Insiste para que lhe deixe entrar no vazio
Tornar-me um rio de nada a desaguar-me
E eu não sinto meus pés molhados
Viro-me
E só virar-me é o que sei fazer
E o tempo pára para me deter
Sou giro sem ponta, sou motivo movimento
O tempo não desiste
Não tem tempo a perder
Adentra com areia e passo a entender
É vida o que gira e areia é nada a viver