REVOLVIDA

Meu mar é traiçoeiro, traiçoeiro

revolve-me nas horas imprecisas

e salmourando só a alma e a língua

afoga o meu pensar, minha razão

São ondas e mais ondas espumantes

turvando-me a visão; enxergo nada

braçadas são inúteis nessas horas

melhor por-me à deriva, paciente

Quem dera ser só brisa, eternamente

beijando à tardinha os seus cabelos

ou mesmo vento morno à noitinha

que embala o sono bom, tão mansamente

Mas mar é mar e mar agigantado

faminto em ânsias, caudaloso e quente

borbulha e incita a alma, noite e dia,

a amar e amar, desmensuradamente

REVOLVIDA - Lena Ferreira - rev. out.13