Um olho vê tudo
Ou quase tudo.
E o outro é fechado, costurado.
Conhece intimamente as trevas
e a indiferença
 
Um olho mira e pondera.
Outro olho ignora e se desespera.
Um olho é instinto.
O outro é suicida.
 
Um olho acompanha a curva.
E prossegue.
O outro acompanha o espírito
E enobrece.
 
Distante da sensibilidade óbvia.
A deficiência só opera milagres.
Enquanto que a turba odiosa
Apenas discrimina.
 
Mas somos todos diferentes.
Até quando somos iguais.
E, alguns mais iguais
que antigamente...
 
Sobreviventes com um olho só.
Com uma perna só.
Com uma mão só.
Com uma solidão
do tamanho de um corpo inteiro.
Que abandona nosso espírito
Pois afinal quando morremos
Todos então faremos
parte do infinito.

Um infinito só.
Um infinito inteiro, mutilado e imenso.
 
Costuram-se existências
Num patchwork extraordinário
Onde cada retalho é pleno.
 
 
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/10/2013
Reeditado em 15/10/2013
Código do texto: T4526266
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