O outro eu
Depois da luz natalina
Outra que cega e desatina.
Por dentro nasce um ser estranho,
Medonho e desse tamanho;
Que usa as minhas pernas, meus braços,
Meus olhos e tudo o que há em mim.
Anda ereto; se esconde
Embaixo do tapete, atrás da porta,
Dentro da geladeira, no pó da gaita,
Da soleira, no fogo da lareira.
No ar condicionado, canta uma música,
Um mantra desconhecido;
Circula por uma cidade que,
Como todas as outras, é viva e uiva
Tal qual um cão em lua cheia.
Em perene e constante mutação;
Nunca está só de lua, mas de lua e meia.
Às vezes, faz brotar do chão imundo,
Um DNA sem nome, ou sobrenome,
Que traz a fórmula do bem
E traz, na garupa, a do mal também.,,
Nesses momentos sou estrangeiro
Dentro do meu próprio ser.
Na mente, as ideias estonteiam;
O corpo perde os limites e tramita,
Come, arrota, vomita às escondidas,
Contra a vontade do espírito.
O intento mais dileto desse ser
É provar a mim mesmo
Que o que está escondido não existe.