A Criança
As Discussões espalhadas por todos os cantos da cozinha,
Cadáveres de afetos são enterrados no quarto pelo medo.
A Criança olha sem entender o sangue em seus brinquedos,
A Criança sente que a Dor é sua única amiga e leal vizinha.
Incompreensões são o diálogo a todo instante, até no almoço.
Cada um enclausurado na casa em seus próprios escuros becos,
A Criança é empurrada sem remorsos para o fundo do vazio poço,
Pelas ausências dos pais nesses vales tão decrépitos e secos.
A criança mutila o próprio reflexo com uma navalha cega,
Pronto! Eis mais uma alma tão habilidosa e desfigurada;
A Criança lança gasolina em tudo o que a vida lhe prega,
O fósforo incendeia a pureza pecaminosa das brincadeiras enervadas.
Cada orvalho, cada aurora, todas as coisas vivem de si divorciadas,
E a Criança degola as faces em que as mãos do Destino lhe delega.