Liberdade

Liberdade

(Onirismos - I)

Madrugada silenciosa,

de uma calmaria forçada;

tudo ali refletia em lapsos

qualquer coisa de repressão.

Era sobrado grande,

adornado com correntes

que não se viam necessariamente.

Saiu do quarto num ímpeto,

mas tão logo alcançou o corredor,

seguiu deslizando, sem pressa,

discreta como uma serpente.

Uma dançarina inconfessa.

Desceu as escadas, veemente.

Nem parecia que realmente

pisava naqueles degraus;

o semblante era de quem

flutuava, mas não tinha nada

de celestial. A escada em espiral,

de madeira, foi percorrida

lentamente. Desceu sorrindo.

O homem desconhecido,

carregando um chapéu marrom,

logo veio atrás, grunhindo.

Certamente, um aprisionado

em si mesmo. Tarde demais:

ela já tinha alcançado

a porta que dá no quintal.

Tarde demais.

Sentiu-se arrebatada

por um prazer descomunal.

Parecia uma quimera, a esmo

na verdade da natureza.

Tarde demais. Liberta!

E nunca mais seria presa:

havia terra em suas mãos.