REFÉM

Passo serras, matos, motos

O céu está muito além

Um rio corre endoidecido

Um anjo da guarda vem

Abri a porta, entrei

E saiu somente quem

Joguei meu anel no mar

Pedi, mas não vi ninguém

Não faço mais espetáculos

Nem para ganhar vintém

Saltei do despenhadeiro

Um anjo disse: amém

Será que ali é o céu

Ou a torre de Belém?

Ah, meu Deus, se fosse lá

Mas estou muito aquém

Isso não é neve nem brisa

É o vento do Eden?

É fácil ser marinheiro

Fascinado com o vaivém

Na noite em que me deixaste

Eu corri a mais de cem

Se for para embarcar

Disse que já foi o trem

Naquele lugar sombrio

Rezam o teu requiem

Sou fausto, mas ontem mesmo

Sucumbi ao teu desdém

Eu penso que há veneno

Será que o teu lábio tem?

Alisei os teus pentelhos

Gozei no teu vaivém

Não deu pra satisfazer

Te espero em meu harém

Tenho medo de te amar

Que não me ames também

Diz-me: tu me amas?

Ora, ora, nhenhenhém

Queres que eu morra logo?

Quem ama não mata, heim!

Jurei por Deus muitas vezes

Pelo teu mal, pelo bem

Por onde fores eu vou

Ser teu guia, teu pajem

Se disser: dou-te um tiro, aguarda

Do sino o blem-blem-blém

Passou a noite, é dia

Cochilas como nenen

Mourejo, confissão e sangue

Transmuta para o zen

Arrancar do homem a pau

E do touro a sedém

Para bandido ou monge

É tudo como alguém

Estar em terra ou no mar

Morto ou vivo, um refém.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 31/07/2013
Reeditado em 31/07/2013
Código do texto: T4414061
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