Poeta da Morte

Noite misteriosa, soluçando em minha janela ventos em agrestes ânsias singelas que cantam o lamurio uivante da solidão latente. Dancei a morbidez da natureza causticante, ouvindo em prantos a consciência, chorar como pestilência a perturbadora agonia da insônia. Levantei-me fadigado, triste e desolado, e vi, sobre a cama, como quem no profundo sono samba, meu corpo inerte dormir tranquilo. Na limpidez dos sonhos, em corpo astral me vejo entre fluídos de pensamentos beijando as faces chorosas dos que caíram no esquecido mundo das lembranças.

A vida se movia nos fluídos de meus pensamentos, que emanavam do éter absconso, penso, ou do mundo das ideias de Platão. Naveguei errante pelos vales dos sonhos misteriosos, revivendo outrora vidas angustiosas e momentos bons que sumiram entre as linhas do tempo. Mas uma visão em especial chocou-me profundamente; foi quando olhei embaixo de um pinheiral doente, eu mesmo quando criança a chorar pela primeira vez, em soluços angustiantes, as lágrimas dolorosas da melancolia cortante. Era eu sendo assolado pelas lâminas cruéis da vida, vendo minha inocência se perder no sofrimento sufocante. Foi quando percebi, entre as dores latejantes, que o mundo lindo o qual vivera, não passava de uma ilusão serena. Não contive as lágrimas e chorei com o pequenino, triste por saber que dali em diante, sua vida seria os escombros da ilusão inocente que morreu quando ele descobriu o sofrimento.

Vi o jovem crescer tristonho, carregando em seu âmago bisonho, as chagas do primeiro sofrimento. Quis investigar e voei ao pélago das lembranças esquecidas, então entendi tamanha tristeza que moldou minha existência e me transformou neste homem triste.

Feliz eu estava a correr pelos pastos na espera de meu pai, que prometeste para mim que colheríamos flores de jasmim para minha mãe que, na escuridão telúrica, descansava nas profundas sepulturas. Esperei até o cair do crepúsculo; o frio chiava rítmico, e o augúrio da coruja distante me fez sentir uma profunda dor cortante, seguida de um sentimento fúnebre ao escutar um senhor chamar meu nome. No fim daquela tarde que anunciava a noite fria, o humilde senhor segurando as lágrimas, disse-me em dolentes palavras sombrias: - Seu pai acabou de se matar.

Corri para casa em prantos, não acreditando naquela noticia, mas somente quando vi aos montes, pessoas que vinham de longe deixar os lamentos ao meu pai falecido, foi que entendi dolorosamente que no mundo eu estava sozinho... Corri para o pinheiral doente, chorando angustiosamente a perda de meu pai querido. Daquele dia em diante, cresci sem propósitos, sempre viajando errante, compondo poemas melancólicos de tudo quanto na natureza é morto...

Acordei com os olhos cheios de lágrimas, amaldiçoando aquela viagem que me fez reviver a dor esquecida. Levantei-me e escrevi este texto fúnebre, revivendo novamente as dores do passado lúgubre, para aliviar a dor que me consome... Já não há mais o que dizer, a não ser escrever sobre as jasmins que não colhi, ou expressar minha dor na natureza das coisas mortas...

Nishi Joichiro
Enviado por Nishi Joichiro em 28/07/2013
Reeditado em 29/09/2013
Código do texto: T4408028
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