Uma Lagarta e as Duas

Uma lagarta estendida sobre o meio fio,

na aresta da face externa,

o lado mais arredio.

Paralela às faixas no asfalto,

travessia de pedestres.

Duas moças de braços dados,

duas belezas silvestres.

Uma num vestido azulado,

outra num estampado,

nas cores que a lagarta exibia.

Animadas atravessavam.

Quem era a que mais sorria?

Por sorte não acabaram

com a vida que ali se estendia

na beirada do meio-fio

quando a calçada alcançaram.

Era quase meio dia.

Os três vinham assustados,

mas um disse a elas “bom-dia”.

Mas elas não escutaram,

uma delas fingia.

Eram bandidos perigosos,

era o que o povo dizia.

Continuaram andando,

zombando da ousadia

que teve aquele bandido.

E nisso o dia corria

e a lagarta se deslocava

com as cores que ainda exibia.

Rio, 18/05/2005