Queda e Indiferença
Desposado no chão jaz o fruto sagrado do desejo proibido;
A nudez da culpa se entranha nas fontes do coração casto,
O arrependimento não sacrifica a seiva do castigo nefasto,
Quebram-se em vários cacos a mentira em quem temos sido.
Os olhos da Liberdade espiam pelas frestas da nossa consciência
Tudo é baldio onde outrora semeamos os lírios de nossa ilusão.
Ébria, a alma se ergue, fluindo nos leitos gangrenosos da insciência,
Os lábios tecem uma prece perante anjos suicidados pela Razão.
Debruço-me sobre o longínquo poço que sou, e nada sinto e vejo:
O vácuo de meu próprio vazio é mais profundo do que o universo.
Rogo aflito a Deus, e só há o eco emudecido de meu apático desejo,
A anemia delirante da vida entrelaça em tudo os paradoxos dispersos.
Nós_ horas intercambiadas entre intelecções e esquizofrenias;
Nós_ idólatras do Ter, do Ser, do Ego, da Estupidez, de Deus...
Aspiramos por paraísos que nem a Desilusão nunca nos prometeu,
Encontrar-se e afastar-se de si mesmo são epiléticas companhias.
A Vida traga sem pestanejar mais uma dose dupla de absinto_
Quanto mais se compreende, mais o cadáver do absurdo berra.
Ser condenado ao alento e desalento é um vão epílogo indistinto,
Tudo são páginas inanes e inférteis onde a debilidade nunca se encerra,
Nossas glórias e conquistas são proletariados mortos nesse vil recinto:
A Existência é indiferente a quaisquer devaneios humanos e guerras.