O BACO E O MONGE
Às vezes sou monge meditando em jejum,
E noutras um Baco envolvido em sarongue,
Entupido de tinto e de rum.
Um monge bebendo a cartilha de Deus,
O outro em graça, com olhos ateus,
Nenhum envolvido c’outro seu eu,
E os dois desunidos e perdidos,
Por dentro dos becos, dos breus,
Da estrada da ponte quebrada do caminho meu.
Às vezes acordo demônios de dentro de mim,
E crio os mais desumanos processos de coisas ruins,
E tramo maldades, enganos (o Baco queria esse fim),
Eu bebo e a gente faz planos para a cirrose e afins...
E o monge, com seus olhos longe, retoca a paisagem ruim,
Garante que desde anteontem, a vida não é mais assim.
Idade eis um fardo constante. Eu acho que acordei de mim,
Eu quero a vida do monge, com sua alma marfim,
E o Baco girando no espaço, como encantado querubim.