Ponto cego
O olho vê tudo, mas não se vê.
Nem diante do espelho.
O que vemos é apenas o que imaginamos.
O que pensamos que vemos...
Ilusão.
Que construímos por reconhecimento
O olho desnuda a paisagem.
Usa os filtros da cor, da luz e intensidade.
Mas não percebe o que influencia.
Ou o que é ser influenciado.
Raios e influxos invisíveis pairam sobre
as cabeças,
redigem sentenças,
destrincham destinos...
coordenam passos e
constroem abismos.
Misteriosamente vaticinam
bem antes da hora decisiva.
Está tudo escrito no código genético.
Está tudo escrito no código histórico.
Tudo escrito na íris dos olhos que
não se veem.
Olhos não enxergam profundamente
Afogam-se no raso da imagem
Perdem-se nas reticências retilíneas
do tempo..
Esquecem-se dos túneis e conexões sub-reptícias
Não quero iludir os olhos.
Enganar a alma.
Fraudar o corpo.
Quero a verdade óbvia e a disfarçada
Quero a luz da luz...
E arder de culpa
por ter me omitido. Por não ter visto.
As palavras não podem
esculpir sua percepção.
Tangenciam o sentido real das coisas...
Mas, há um lastro de erro,
de engano,
de falha.
Um ponto cego.
Uma cegueira tolerada.