Ponto cego

O olho vê tudo, mas não se vê.

Nem diante do espelho.

O que vemos é apenas o que imaginamos.

O que pensamos que vemos...

Ilusão.

Que construímos por reconhecimento

O olho desnuda a paisagem.

Usa os filtros da cor, da luz e intensidade.

Mas não percebe o que influencia.

Ou o que é ser influenciado.

Raios e influxos invisíveis pairam sobre

as cabeças,

redigem sentenças,

destrincham destinos...

coordenam passos e

constroem abismos.

Misteriosamente vaticinam

bem antes da hora decisiva.

Está tudo escrito no código genético.

Está tudo escrito no código histórico.

Tudo escrito na íris dos olhos que

não se veem.

Olhos não enxergam profundamente

Afogam-se no raso da imagem

Perdem-se nas reticências retilíneas

do tempo..

Esquecem-se dos túneis e conexões sub-reptícias

Não quero iludir os olhos.

Enganar a alma.

Fraudar o corpo.

Quero a verdade óbvia e a disfarçada

Quero a luz da luz...

E arder de culpa

por ter me omitido. Por não ter visto.

As palavras não podem

esculpir sua percepção.

Tangenciam o sentido real das coisas...

Mas, há um lastro de erro,

de engano,

de falha.

Um ponto cego.

Uma cegueira tolerada.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 17/05/2013
Código do texto: T4295926
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