A EXISTÊNCIA NO DESERTO (de "O Plasma")
Malditos homens
incríveis
que nasceram
antes do tempo.
Maravilhosos
e infelizes desterrados
cósmicos,
exilados solitários
e extravagantes,
nostálgicos vagabundos
e mendigos,
cafajestes
e revoltados.
Como todos,
eu sofro;
todos sofrem
o mesmo mútuo
sofrimento
dos tolos
e dos heróis
que não se conformam
em viver
segundo
as regras.
Cabeças extraordinárias
que só vivem
para o futuro,
como é penoso
suportar
a soberba e a humilhação
dos inúteis
que, tal qual o pó
que o vento espalha,
desaparecerão
na imensidão da Eternidade,
passando os poucos momentos
das suas efêmeras existências
sem deixar vestígios
ou marcas,
a não ser
talvez este poema.
Eu digo:
a imbecilidade
e a ignorância
se diluirão
naturalmente
nas águas
sem ondas
do vasto oceano
do Tempo
e serão apenas
mais algumas
gotas insípidas
no imenso cálice
derrubado
que ainda inebria
os incompetentes
e os mal-intencionados.
Até lá,
somente o tédio.
O tédio mortal
deste deserto
abandonado
por toda e qualquer
forma de vida
e varrido
de tempos em tempos
somente pelo vento
sobrenatural
que espanta
mesmo as suas próprias
sombras e fantasmas.