Máquina que maquina
A máquina que me leva não é nada;
São roncos, latas ferros e borrachas
Porém, trazem em sua têz
O peso do que sou.
Logo, valho o quanto peso;
Sou o cara do carro tal...
Meu peso em ferro, barulhento,
Velóz e assassino.
Assim sou eu. é o meu destino.
Nem sei em que esquina me abandonei;
Em qual encruzilhada espera o meu caráter;
Talvez em algum semáforo que nunca se abre;
Quem sabe, lá no fundo,
Lá no coração que ainda pulsa,
Não haja repulsa de nada que seja humano;
Quem sabe um dia eu reapareça
antes de algum jantar,
Cansado e com fome de ser homem,
Sedento de silêncio e de lua...
Tomara que nesse momento
Eu não tenha borrado
Meu céu de feia fumaça;
Então pecisarei me desfazer.
Uma vez desfeito, quem irá me reconhecer?
Certamente, em algum azul de fundo,
Num infinito a derramar pessoas,
Nessa torrente, eu caia numa torneira
Como água a jorrar,
A lavar as mãos de qualquer serafim
Que queira deslavar a própria cara
De ter me condenado a ser
Tão vulgar, tão irreverente e tão errado assim.