SEMENTES DO AMOR

Já se vai tarde é doce a procura

Já se vai tarde é minguante a noite

O melhor de se amar

É saber que do outro lado tem sempre alguém a nos esperar

Já se vai tarde esta paixão que não tem cura

Paixão mesmo quem não tem

Tem vida não

É casa desarrumada

É arrebentação

É pássaro solto diante da inundação

É subir quilométricas dunas sem direção

Já amor é descer pros canaviais

Todo dia

Toda noite

Toda hora

É dia de poesia

Minha amada

Saiba que com teu amor sobrevivo

Tu és a única caloria de que preciso

É como o aconchego de minha casa

Tenho tudo que preciso dentro dela pra sobreviver

Às vezes sinto que estás perto demais

Para que eu perceba a falta tamanha que me tu me faz

O que eu posso te dar de mais valioso

Se não a semente que está em mim

Flores vivas do amanhã

Nossos filhos que em ti plantarei

Estarei neles e conjugar-te-ei

Tua redoma é a soma de meu viver

Crescerei como flores vivas no amor deles

Uma criatura eu criei no teu colo puro

Implodirei minhas essências

Meus esconderijos nos teus criarei raízes

Nas tuas cicatrizes me amoldei

Meu Deus sou teu molde

Choro convulso

Nesta parida criança

Estás na gravidez na prenhez da semicolcheia

Na plenitude da maré cheia

Deste-me a honra de não ser avulso

De ser-te na assinatura da manhã o pulso

Na esperança de verter-me nela

Sou teu servo e tua sentinela

Teus olhos de refolhos

Abertos dentro dela

Por entre cravos e canelas...

Nas pupilas se debruçam minha eternidade

Abrem-se minhas janelas em cintilantes tesouros

Tudo é frescor em derredor aves em coro

O vento retinindo e o sol dourando a crina do dia

A fresca brisa se dissipando cortada pelo sopro quente do sol

Que desfaz-se sibilante e ardente na displicente garoa

Tudo neste turbilhão é um palácio de ouro que o tempo não esboroa

Voa a vida e a vida voa...

A paixão criou asas e agora polvilhou a negra lagoa

Cisnes em plácidos movimentos se embalam

O ventre da mulher amada concebeu

Por entre leite e mel o vento norte de Bóreas

A candura da linfa Aurora arrefeceu de poesia meu tragado céu

A vida a cata de um tesouro me trouxe um novo cordel

E a flor perene do colo fecundo das raízes emerge

Traz o perfume contido nos sonhos

Nas carícias ternas do sereno

Eis que surge o luar

Trazendo a quietude que transborda a fragrância de teu doce ar

Enchendo o dorso da madrugada com um beijo macio

O balsamo morno do cio que cobre por vezes a batalha do dia hostil

Voa

a

vida e

a

vida voa... O Pai no solo nos abençoa

Sob o ramo escuro queda a folha da velha árvore que o tempo pariu.

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 22/03/2013
Reeditado em 24/03/2013
Código do texto: T4202897
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