Branco fechado

Trancado entre três paredes

da humilde janela lá em cima

grãozinhos de poeira vejo no raio que me preenche

e energia sinto envolver-me e mover-me,

comprovando eu ser matéria,

dando à sombra minha reflexão

banhada em prata e silêncio

que me torna ferrugem igual a cela que me mostra o presente à frente

a saudade que não se recorda ou sente.Não sei.

Saudade que espera ser lembrada por entre grades e lacunas

como pela última vez que nossos olhos se encontraram livremente.

Mesmos olhos que zelam por mim e sei de alguma forma

uma leve pena pesar resumir-se.

Porém, eis que surge um pássaro na humilde janela.

Abre as asas e voa em minha imaginação

tornando o espaço leve e distante.

É a liberdade entrando em minha prisão,

dando asas ao meu coração.

O pássaro exilado apareceu no escuro para anunciar que é ilusão...

Desde então carrego em minha coluna

a marca do pecado,

o Prometeu acorrentado

pagando em meu escuro fígado a dor de deveras sentir.

A precognição do caro futuro em álcool batizado.

Em minha pele viva

carrego a prisão cujo prisioneiro é carcaça.

Cárcere de espírito, transitando livremente entre falas apenas pensadas,

tempos não vividos.

Cárcere do espírito que roubou o meu fígado...

e tempo, no qual vejo todas a cores se esconderem no prisma da verdade.

Um girassol brotou na cela

e lembro-me de tê-lo guardado em algum lugar em meu peito,

só não sei aonde.

Espero lá não ser frio.

A quarta parede quebra ao ser atravessada

pelo branco que abriu-se expandindo.

Victor Ricardo
Enviado por Victor Ricardo em 19/02/2013
Reeditado em 21/02/2013
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