QUE BENÇÃO POETAR!
Bem, quando nasci me disseram
Foi uma profecia?
Uma maldição?
Uma benção?
Falaram bem assim:
─ Vai ser poeta.
Arrebentei o peito
Achei no mundo um mundo de defeitos
E ao mesmo tempo o amei tanto
No riso e no pranto
Andei no fio da navalha
Na corda bamba
Nas linhas retas
Nos círculos
Nos semicírculos
Mandei beijos para a lua
Perambulei noite alta pela rua
Dormi nua
Arranhei paredes caídas
Dei belas gargalhadas
Contei piadas
Eu me achei tão estúpida
e tão esperta
Fui clarividente
E no clarão da aurora eu me fiz tão corajosa
Eu me busquei no fundo de mim e me trouxe para fora
Deixei a poeta falar, gritar...
Deixei-a livre, para poetar...