Estátua da sala
Estátua da sala
Muito antes dos avós de hoje nascerem,
a estátua já existia, possuía forma.
E sobreviverá a mim a pequena peça.
Nos apertados poros do bronze o tempo
parece não penetrar. A meu corpo
quente, mole e poroso, quase vazado
(acrescente o desejo que o alucina e
o desespera), o frio metal informa que
quando a terra transformada em sol a
forma vista deformar-se-á derretida
deixando de ser estátua. Isso que
confere uma só ação aos dois braços
não haverá mais, cambaleante centro
do sujeito se diante do firme enfeite sem-
vida da sala. Não sobrará então nem um
resto disforme do que um dia fora um
maciço soldado moldado, pois não existirão
mais a palavra, necessária ao sentido; o espaço,
necessário à forma; a memória, necessária
a todo tempo anterior a cada instante.