Para todos os seus dias de glória.
(Blog: "Patricia Porto - Sobre Pétalas e Preces" pporto.blogspot.com.br)
Se levantar a cabeça rápido demais
quem poderá cair?
Se esgotar suas escolhas, que porta estreita,
que parte estranha vai deixar emergir?
Se ouvir tudo o que dizem a seu respeito,
onde vai se esconder do caminho
quando ele resolver fazer dos seus pés pegadas?
E suas coleções, nome e sobrenome, a terra com gosto de infância...
Em que esconderijo secreto guardará seus brinquedos?
Se a noite apagar antes de um pálido amanhecer,
onde descansará o seu corpo com seus espinhos afiados
- sempre prontos a ferir?
Se a nota for mais aguda e o ritmo descompassar
quem chamará para sua cantiga de ninar espírito insano?
Onde passará os últimos dias de sua jornada pelo mundo?
Quem escolherá para estender a mão quando seus anéis caírem dos dedos?
A quem pedirá conselhos quando for o último deles?
Quando as fotografias não fizerem mais nenhuma companhia,
quantos rostos fincaram notícias na sua memória?
Se abrir a janela, quem enxugará as lágrimas do seu rosto?
Se fechar, quem pegará o cobertor para o longo inverno?
Ao abrir seu peito, que pássaro surgirá dele?
Ao se despedir da juventude, quem vestirá seu velho jeans?
Onde foi morar aquela moça? Aquele rapaz?
As ruas demolidas, o asfalto quente derretendo toda vista do caos,
quem lhe alcançará na corrida? Por que correu tanto se podia caminhar?
Se torcer muito o nó, ele enforca a corda. Se afrouxar os seus pés, quem sabe..
Desligar o medo do outro, antecipar ao vento o rosto...
Sentir seus sentidos, dissolver a couraça da exagerada arrogância,
destruir suas façanhas, aprender uma nova língua...
Se encontrar mais estranhos dentro que fora,
e abandonar aquela velha teoria sobre os homens,
mergulhar no traçado da alma,
que desenho, lápis, risco
escolherá para inventar sua história?
Se ao passar sob o arco
nada, nada mais levar nos bolsos...
E se passará sozinho,
abrindo a passagem com a cabeça,
o que perderá desse momento?
Patricia Porto