BOCADO
Meu pouco é apenas um pouco de tudo;
é o ontem, o hoje, o agora,
é um mundo minúsculo e enorme,
é o tudo, é o nada uniforme.
Meu pouco é um pouco sinuosa estrada;
é reta de tantas manobras,
é terra lavrada que o sol ignora,
é obra inacabada de mãos calejadas.
Meu pouco é um pouco outono flamante;
é flora silvícola de cor ignóbil,
é igarapé que corre silente, errante,
é torrão tórrido, às avessas sútil.
Meu pouco é um pouco intenso e pacato;
é o pouco que beija veemente o espaço,
é aquele que no mundo vaga letárgico,
é o santo, é o louco, é pudico, é pecado.
Meu pouco é um pouco do meu todo;
é maçã que alimenta a fera,
é nascente que embala a nau , é calmaria,
é movimento que impele segura a esfera.
Meu pouco não tem rumo certo;
é ângulo obtuso, é ângulo inconcluso,
é linha que margeia o incerto,
é o ângulo que a m’ia essência urgi,
é ângulo concreto.
JP30122012