Lapso
Como duas esferas circunscritas
Vagando num precipício existencial
Colidindo com os quadrados
Num colapso atemporal
Não há lados nem chão
Só a escrita narrando
As ideias em suspensão
Num lapso nervoso
Com um olhar furioso
Atrás de verdades em construção!
E nas verdades inacabadas
Em um mundo metamórfico
Cria-se um ser movido
Pela inconsciência que remonta
Todos os tempos e espaços
Me sinto tonta em concebê-lo
Para me distrair
Peço-lhe um abraço
É que o infinito é tão complexo!
E a reprodução tão simples
Corro na beira da estrada
Se por acaso eu for atropelada
Morre comigo todo o universo
Num verso miserável
Mas ele ressuscita infinitamente...
Em uma gota qualquer de chuva
Até mesma em uma luva!
Como posso entender a imanência?
A visão ainda é cartesiana
Sigo reto e a terra nos parece quase plana
Mas o olhar da cigana é oblíquo
E a matéria é uma forma de energia
Como posso sentir alguma alegria...
Se eu não comungar comigo mesma?
Se tudo o que vejo me pertence
E a tudo pertenço?
Mas como conceber a metafísica?
Mas como nos conceber...
Se a vida parece um lapso de memória?