DIFUSÃO

maria helena sleutjes

             [ do livro: Formas Fractais]

Rendo-me
aos objetos mudos
de contornos indefinidos
aqueles que apenas projetam
desenhos irregulares
e não dizem muito.

Em formas vazias
embriago-me
pedaço por pedaço
meu olhar se perde
minha retina arde
meu coração explode.

Banho-me no lusco-fusco
desta dor difusa
o corpo do desejo
que já não vejo
em minhas mãos
transborda.

Fixo-me na superfície
de tudo
meu ser adormece
minha alma perambula.

Alguém retirou as cores
dos cartazes da vida
alguém rasgou as figuras.

Vejo meia boca
um pedaço de estrela
que faísca e só faisca.

Um despertador quebrado
fala da solidão das horas
marca este vazio que não passa.

Afinal, sou anjo decaído,
papel amarfanhado
e uma saudade incontida
dobra a minha face.