Distribuição

Às vezes falo muito.

Às vezes me visto de silêncio denso.

Nuvens afoitas descrevem

o tempo lá fora.

Mas aqui dentro,

Tudo é neblina.

Tudo é mistério.

O ruído incompreensível é uma senha.

O ranger dos dentes revela

o fonema mágico.

E a palavra surge como fato.

Às vezes falo muito.

Reporto-me aos mesmos fatos,

às provas científicas,

estatísticas loucas que apontam

para certeza alguma.

E as dúvidas migram para as reticências.

Como um ballet delicadamente russo.

O verniz da imagem arranha a garganta

Já inflamada de tantas vozes e ecos.

Ou seriam sussurros que viraram gritos?

Quem decifra o que falo?

nas frases montadas

ao acaso da memória?

Pois tudo que me lembro

É que às vezes falo muito.

Distribuo verbo aos vértices do mundo.

Só as palavras suportam caladas

toda estupidez do mundo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/11/2012
Código do texto: T3995663
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