Distribuição
Às vezes falo muito.
Às vezes me visto de silêncio denso.
Nuvens afoitas descrevem
o tempo lá fora.
Mas aqui dentro,
Tudo é neblina.
Tudo é mistério.
O ruído incompreensível é uma senha.
O ranger dos dentes revela
o fonema mágico.
E a palavra surge como fato.
Às vezes falo muito.
Reporto-me aos mesmos fatos,
às provas científicas,
estatísticas loucas que apontam
para certeza alguma.
E as dúvidas migram para as reticências.
Como um ballet delicadamente russo.
O verniz da imagem arranha a garganta
Já inflamada de tantas vozes e ecos.
Ou seriam sussurros que viraram gritos?
Quem decifra o que falo?
nas frases montadas
ao acaso da memória?
Pois tudo que me lembro
É que às vezes falo muito.
Distribuo verbo aos vértices do mundo.
Só as palavras suportam caladas
toda estupidez do mundo.