A estranha
Os dias são estranhos nessa cidade
Nada está ao alcance das mãos que sangram
Cegas pela escuridão arcaica do quarto abandonado a eras
Grandes morcegos confabulam no porão, aguardando que abram-se as portas do inferno.
Não há mais nada no inferno, apenas restos de orações muito antigas, húmidas e cheias de clemências.
O lugar tornou-se inóspito, tanto quanto os corações de tantas gentes.
Formigas formam uma fila indiana até a porta da cozinha, levando como reféns os jovens gafanhotos.
O tempo passa velho e arrastado, como um caracol portando futuros labirintos.
Os pássaros partirão, deixando abertas suas gaiolas frias e anarquistas, engolidas pela escuridão de uma noite qualquer, nessa cidade estranha, nessas horas estranhas, nesses dias estranhos que fazem parte de mim.