O TEMPO É UM MESTRE SILENCIOSO
O tempo é um mestre silencioso, imprevisto e implacável,
Que, como o vento, leva e desfaz ligeiro os sonhos todos.
Ensina-me alguém de que forma caminhar entre as folhas,
Os cheiros, as alegrias e as dores dos jardins de minha casa.
De outrora, lembro-me de quando mexíamos a terra
E brincávamos de alguma coisa qualquer que não entendiam.
Naquele jardim só nosso levantávamos grandes castelos no ar,
Abríamos rios entremeados a vales, por onde navegávamos.
Sentávamos sobre algum monte de areia e construíamos mundos.
Eras meu amigo. Eras meu capitão. Eras meu herói.
Pequenos e imensos, inocentes, transcendíamos alheios ao porvir.
Descalços e descamisados do mundo, ofertávamo-nos em inocência,
E compartilhávamos, sem perceber que o dia morria, o irrecuperável.
Ensina-me alguém por que tantas portas e janelas se abriram,
Tantos entraram e saíram desavisadamente desse jardim.
E por que perdemos, insobreamente, com nosso olhar desviado,
A pureza com que habitávamos nossas mentes e nossos corações.
Ensina-me tu, meu herói, por que permiti que a noite crescesse diante de meus olhos,
E me ceguei, sem perceber que ainda abrias estradas com seu carrinho a brincar.
E me perdoa por virar minhas costas e caminhar até as margens do jardim de nossa casa.
Sei que dormes. Choro. Amo-te. Espero-te acordar.
Péricles Alves de Oliveira