Arlequim e Arlequina, andando no mundo
Sou um arlequim brincando num mundo alvadio
um ser brincalhão que esconde em meio a sorrisos
as trevas que habitam no espírito,
quais efervescem num puro gargalhar cínico.
Arlequina minha doce dama do santuário,
por quê não aparece diante de todos que leem estes ditos?
Seria convulsionada como num rito sacro,
tu já és jubilada num sacrário maldito
e incestuoso.
Somos nós dois representantes gerais do que há
no mundo; representantes sob este céu azul e fulgido
de que só há no mundo pessoas como nós a tragar-no como lar
Moradores é o que somos desta Terra desde que nos fizemos bradar,
não com os síbilos da natureza, mas como um rio impuro
e infecundo, relembrando-nos sempre de olvidar
As vozes que insistem a estarem conosco - Aquelas malditas meu querido,
como ninfas belas que gorjeiam aos nossos ouvidos ancestrais.
Somos de antes de tudo, somos de eras imemóriais,
e ainda assim não as esqueço, não as olvido
Do ouvido direito. - Minha doce Arlequina, deixa que as soprem sozinhas
posto que somos ideias gerais presentes em tudo,
estamos presentes desde que haja uma mínima presença do soturno,
não no escuro da noite, mas na alma frígida
de ouvir a si mesma. Ria, minha bela, ria!
Como elas nos esquecerão se somos elas?!
Como elas serão mesmo que um pingo sinceras
com elas mesmas? Não se preocupe minha fada lírica
de cânticos sacrais do submundo, porque lembra-te, somos o mundo
desde que hajam gentes nestas terras puras, nós seremos elas no taciturno.
Brinquem, sorriem, dancem sob meus véus
Estou convosco, sou um de seus menestréis.
Matem, aniquilem-se, ofereçam-se aos féis
néctares da incerteza que são o viver sob o meu léu.
Quem falou que ser casto é tolice?
Quem falou que não ser-casto é burrice?
Tudo é um na Natureza desde que haja natureza
Tudo é em si na Singeleza, desde que haja singeleza.
Esta Pureza de espírito que não há enquanto governarmos,
eu e você minha doce Arlequina, enquanto estarmos
nessas almas desvanecidas
que sujam a pureza desse orbe sobre os astros do firmamento.
Solte para mim seu trinar de lamento:
-Somos vocês, pessoas Enlouquecidas.
Acordou?