Câmara Ardente
Em câmara ardente meu corpo repousa
Da vida estéril que o tempo consumiu,
Alma denegrida por um orgasmo senil
Em que o vigor excêntrico perdeu sua força.
No leito fúnebre a cabeça já não pensa
E os sonhos gangrenaram-se ante os despojos,
Mísera morte que me levou a luz dos olhos
Para um nevoento caos de escuridão intensa.
Resta-me tão somente esse odor nauseabundo
Que debaixo da terra será adubo para um mundo
Em que os vermes proclamam o veredito da injustiça...
Sepultura que será jazigo de pleno sofrimento,
Pois as flores murcharão com o esquecimento
Da última homenagem a uma existência postiça!