Adormecer.
Tenho na ponta dos dedos o meu mundo
E explodindo no peito o coração ardente,
Essa é minha sorte:
Desperto de dia, adoeço à tarde,
e à noite, minha morte é pulsação transcendente.
Nos lençóis que me abraçam, adormeço
Esquecendo os nós, prós, após.
Num momento de sono profundo
É que aperto com garras firmes meu mundo,
E estou com meu coração a sós.
Morri ontem, mas hoje acordei,
E o dia me pareceu tão mais brilhante,
Que sinto meu coração estar como o amanhã, mas...
Lhe quero tanto como antes!
Vivo, sangrento e delirante!
Hoje à tarde adoecerei,
Preparo então, meu leito e minha sorte,
No fim da tarde minhas garras se fecham
Esperando ansiosa e febril,
Na cama que se partiu,
Agonizando em meu coração, uma nova morte.