Dualidade
Flutuas no quarto enquanto o teu corpo dorme
E te sentes livre ao ver-te ali repousado
De movimento e pensamento
Embora sonhes contigo mesmo
Sem saber ao certo se és o que dorme
Ou o que consciente se eleva por sobre a mediocridade plana da vida.
Esta dualidade misteriosa te assalta
Agora que não há compromissos nem encontros
Nem as contas exasperantes
Nem o odor mofado de memórias descontínuas
Nem o som, o barulho, a música do rádio, o filme da televisão.
Distante o amigo, a amiga, o filho, o pai.
Flutuas e repousas ao mesmo tempo.
Se a vida não é este encontro chocante com a realidade- que agora parece um sonho-
E se esse sonho agora é tão real,
Quem és tu afinal?
Alma, anjo, espírito, deus entre os deuses?
Tudo parece sem sentido. Esta tua busca na vigília
Por um sinal que desconheces,
Despertar sobressaltado,
Noite mal dormida,
Corrida, suor, fila, labuta,
Em que realmente acreditas? Por quem realmente te dedicas?
Flutuas assim mirando teu corpo inerte
E agora sim, tudo parece se explicar:
És o motor, a mola, a essência,
És o que voa, o invisível, o real.
Nagib Anderáos Neto
andergatti@terra.com.br
www.nagibanderaos.com.br