O centro espelhado
Nasci com alma inversa
Trocado de coração avesso
Desejando beijos viris
E o peso intenso do corpo de um de mim
Frustrei o sonho mater
Afugentei a amizade interessada
Para que sobre apenas quem me ame assim
Sem exigir que nada se altere
Sem esconder dos filhos, meus gestos
O meu canto de boca...
Toda essa minha humanidade!
Nasci para dizer
Que das diferentes formas de estar no mundo
A minha se pauta pelo amor
E que o centro do meu corpo deseja um espelho
De uma imagem árida e afastada
Desse terreno inóspito, proibido
Por onde a alma da gente escapa
Toda vez que a gente morre
Não há doçura nesse encontro
Há pendões, destroços que se chocam
Com bravura, dor e quase uma insanidade
Há mais violência e força quando dois homens se amam
Do que quando guerreiam
E eles riem, porque juntos criaram um único homem
Tão forte como Sansão
Numa salgada e dolorosa luta para transcender a si próprio
E elevar a existência a um lugar de paz!