quem come a abelha rainha?
quem come a abelha rainha?
é claro que é o zangão.
mas não é um só, não.
numa colônia de médio tamanho,
sessenta mil operárias,
eles chegam a ser cem.
quando a abelha rainha
se aninha em sua colméia,
lânguida e disponível,
como o que a gente imagina
que seja o que ocorre,
vem o zangão e acorre
aos seus mais sórdidos desejos,
como trazer um percevejo
numa bandeja de prata
com faca, garfo e sal.
é esse zangão, esse o tal
que chega a comer a rainha.
ele tá sempre na porta
de entrada da colméia,
disputando com outras abelhas
a guarda da cidadela.
sempre banhado de mel,
mas ninguém o acha tão doce,
pois ele é bem debochado,
alcoviteiro afamado
um fofoqueiro, um abutre.
ele não raro se nutre
da insatisfação do alheio.
faz da intriga o recheio
da sua desprezível existência.
tudo que sabe ou inventa,
ele leva pra rainha.
o zangão, essa erva daninha,
é um poderoso X-9.
abelhudo,
se mete em tudo dos súditos
que são todas fêmeas estéreis.
por isso é que tem a rainha,
aquela que pode, adivinha,
trepar e depois botar ovos.
mas só trepa quando é a hora.
e é ele o tal que a fode,
ainda que esteja banguela
é ele quem come aquela
majestade.
a relação simbiótica
entre a abelha e a flor
é o que torna a rainha
mais do que aquela putinha
que trepa até com cem zangões.
a abelha encontra na flor
o néctar e o pólen da vida
e, em contrapartida,
leva o pólen pra longe
pra fecundar outra flor.
e o babaca do zangão
fica esquecido em casa
de pijama.
Rio, 09/07/2006