A Morte da Existência
Queria tanto voltar novamente a ser
Quem antes há milênios eu via e eu era!
Por mais que tente, não sinto mais prazer
Em mais nada: nem no mundo ou em quimeras.
Sonhar em ser feliz é um extenso terreno
Onde amei, cuidei, semeei com lágrimas, orei e lavrei.
Porém tudo se transformou em veneno
Que me fecundou a verdade de que nada saberei.
Ainda que não saber absolutamente de nada já é algo saber,
Pensei que amando meus planos, a vida e as pessoas,
Eu desvelaria os sentidos herméticos do existir e do viver.
Só descobri que as coisas em si nem são ruins e nem boas.
Tornar-se quem se quer é uma utilitarista mentira,
É mais um jargão esperançoso, é mais uma ideia capitalista.
Sou o Absinto Espiritual causando a sublime paz budista
Em tuas emoções e interpretações que nunca sentiras.
É preciso encontrar meu ser perdido?
É preciso me perder para me autoencontrar?
É preciso esquecer quem eu havia sido?
É preciso verdades com sangue para o mundo salvar?
O desconhecido Infinito é tão insignificante quanto Eu,
Pois Tudo são metáforas inúteis neste cosmo vão.
Dizer que estou errado não invalida minha afirmação,
Dizer que estou certo não anula que tudo já morreu.
Escolhemos de fato quem nós somos e quem amamos?
A Liberdade é só uma cruz para no fim nos culpabilizar.
As Palavras e todas as Ideias não conseguem verbalizar
Nada do que é, do que ocorre, e nem do que desejamos.
Os ônibus, os apartamentos, os cidadãos, as tecnologias
São novas espécies de abutres parasitando esta improfícua Vida.
Ser cético, teísta ou indiferente já apagou do existir a magia,
A vil Existência fictícia nasceu morta antes de ser parida.
Tu buscas incansavelmente o “Amor” que nunca existiu!
Tu buscas a inabalável “Fé” onde tudo é inverossímil!
A Verdade, tanto escavada, só nos liberta para as celas da infelicidade,
Mas todos preferem a ilusão do autoprogresso a encarar em si a realidade.
Existência? Existir? Viver? Que tudo isso importa?!
Tu continuarás a viver com tuas belas e dúbias ideologias
E sentimentos, nesta árdua vida que jaz na jaula morta,
E a Insanidade e a Lógica copulam em suas incógnitas orgias.
Gilliard Alves