City
Essa cidade me deprime.
Esse mundinho pseudo-perfeito, padronizado, inferior e cínico
dos que aqui aceitam viver, me deprime.
A atmosfera desse lugar é uma sangue-suga…
As energias conspiram contra a minha existência
e até a minha casa é uma cidade dessas.
O silêncio, o riso, a fumaça, os olhares infelizes…
tudo isso me põe amarrada à mudez.
Minha mudez é um peso, um enigma.
Não compreendem, satirizam e duvidam
mas também não buscam vê-la.
Resta-me um sorriso amargo –
pseudo-sorriso forte e encabulado -
respondendo sem resposta.
Resta-me um peso no corpo, uma dor nas entranhas;
a esperança perdida, a amargura contida
e eu tão jovem ainda…
O silêncio dorme comigo.
Mas as palavras sempre vem,
em sonhos,
me aturdir.
Nessa cidade, eu me espanto.
Eu caio da escada sobressaltada
e afundo de novo em minha cama.
Perdi o degrau. Eu estava subindo a escada,
mas ela se fez translúcida, apenas visível,
nunca palpável.
Jamais.
Eu perdi o degrau. Chutei a borda do nada e acordei.
Afundei na cama, me afoguei num sonho lúcido.
A cidade está sempre escura…
Meus companheiros tentam me ver, compreender e
abranger meus medos mais férteis;
eles tentam me explicar a mim mesma.
Eu abaixo a cabeça como quem entende.
Eu meneio, sorrio, aceito o abraço;
mas eu não entendo…
Sempre me perguntam o que há em mim;
mas a resposta é sempre – nada.
Não minto, não disfarço. Deixo minha dor refletir um sorriso.
E lá vem o sorriso do belo, o sorriso amargo.
Não tenho nada e ter nada é confortável.
A vida desnuda sempre me deprimiu.
Eu rasgo todas as suas roupas num ímpeto
provindo da minha verdade…
mas a minha verdade não é só minha;
a minha verdade é a cidade desgastada,
pútrida, úmida e falsamente abastada.
A minha verdade é aquele silêncio
que causa um arrepio -
aquela náusea.
Eu cambaleio pelas ruas com um cigarro na mão
e mil vontades homéricas na alma -
mas a minha solidão também é um nada…