Alento

Quem, em devaneios nunca deixou-se

flanar calmo nas asas douradas da poesia?

E na harmonia das palavras abandonou

suas dores mais sofridas.

Atire a primeira pedra quem nunca desejou

o amor imortal de Romeu e Julieta,

ou enrubeceu languido com as linhas de Sade e Bocage.

A vida tem me sido rude,

ingrata e implacável.

É nos livros que busco,

refúgio no lusco fusco da fantasia,

consolo e alento na mágica da mente de poetas malditos.

Do que passou quero esquecer,

na poeira do tempo tudo há de se apagar.

E eu continuarei sonhando,o perfume das rosas,

a água correndo mansa num regato cristalino.

Uma sombra de árvore,

porque não um Ypê?

De flores roxas e miúdas me enfeitando os cabelos,

enquanto a brisa fresca brinca fazendo arabescos.

E a relva que verdeja a terra fértil e negra.

Negra como meus dias,

turvas recordações que vem me assombrar.

Então vinde,vinde ó inquietas sombras,negras como a noite em que desejei lasciva me perder.

Negro como o véu que cobre meu rosto no caixão.