UMA VIDA
No caminho até o grande monte, longe do contato vulnerável
Com a causa perdida, quis o tempo me mostrar algo:
A ferida esangue, embrionária, alastra-se discreta,
Com seus vermes a se elimentarem do leito vivo.
Agora vejo.
A vida, efemeridade, esvai-se discreta com a chaga,
Sem destino, em fragmentos de lembranças perdidas,
Num ignóbil fiasco do espetáculo onde tantas vezes atuei,
Infectado, com a cor falseada das máscaras minhas.
Vazio.
Da rocha firme, de onde antes desafiava o mundo,
Sobrou apenas um resíduo enlodaçado de sonhos,
Incapaz de aliviar a dor que invade a alma perdida,
Em caos, entre as sombras que lhe foram plantadas.
Frio.
Com o olhar perplexo, o medo provoca a paralisia,
As trevas eternas e famintas vão devorando todo meu ser,
E um murmúrio suplicando piedade, solto às portas inferno,
Sob trapos de luz, não se faz ouvir pelos deuses impiedosos.
Condenação.
Péricles Alves de Oliveira