Na dobrada da esquina
Noite escura.
Na dobrada da esquina
os passos de quem vêm...
...canção noturna quebrando a ausência de som
que paira entre as árvores e a calçada molhada.
Na plataforma, à espera do trem,
a ânsia da próxima viagem.
Dois sorrisos tímidos ascendem
e arredam a penumbra soturna
para os trilhos.
No vagão,
a percepção de que vago é o mundo.
A paisagem daqui é outra.
Da nascente; água de uva.
E a viagem prossegue.
O céu é macio; nuvens de edredom
e travesseiros.
Anjos sem asas,
comem maçã
e fingem ser Adão e Eva.
Tudo é Barroco.
O trem atraca ao cais
da madrugada.
A cidade dorme.
Quatro passos em direção oposta
se fogem, se rompem, antes que os montes do leste
soprem para o céu
Mais um sol.