NO INSTANTE DOS AMANTES
Ao amor não cabe interpretações
Nem indagações mas as transições...
O que não é nosso não nos pertence de fato
Mas nunca saberemos de direito
O que nos pertence na hora do ato
Só o nada é mais definitivo que a vida
Por isso abusemos dela no sentido transitivo
E sem moderações sem se ater a trilhos
Não há maior empecilho
Do que aquele espartilho
Que sufoca o corpo do prazer
E da liberdade de opinião e expressão
E isso equivale viver ao máximo
Vamos nos sentar nas têmporas manhãs
Uma mesa na beira da praia
Uma imaginação temporã
Brindaremos com Shakespeare
Ser ou não ser o que penso que
Sou e não sou é o que de mim em ti restou
Um gole de um bom vinho bourdouex
Pra bordar os lábios de avelã
Não mediremos as forças em gotas
Iremos suavemente conversar
Versar voando nas asas profundas da gaivota
Que afunda no mar a nau da poesia que vaga
Sentaremos no vento do pensamento
Na brisa do contentamento quem se importa
Trazendo as lacustres palavras do sentimento
Deixaremos as cruzes de lado
Sem fogo cruzado sé desejando o beijo molhado
Como as verdes folhas das hortelãs
Bordados no frescor do halito
Em que habito e então não terei vivido em vão
Com os pés atolados nas areias do chão
Por mais que os castelos se desmanchem
Moramos por um momento dentro deles
Como uma só pegada que se fazem
Eternamente dois seres se eternizaram
No cais do porto dos amantes
Que á água levou e no mar se frisaram...