SEM RIMA 88.- ... tremendum ...
Rudolf Otto, no seu "Das Heilige" explica que o "tremendum" do "mysterium" "pode ser sentido de várias maneiras. Pode penetrar como suave fluência o ânimo, na forma do sentimento sossegado da devoção enlevada. Pode passar como corrente fluida que permanece por algum tempo mas depois se adelgaça e treme, e por fim se apaga, e dirige de novo o espírito ao profano. Pode estoupar de súbito no espírito, entre embates e convulsões. Pode conduzir à embriaguez, ao arroubo, ao êxtase. Apresenta-se em formas ferozes e demoníacas. Pode sumir a alma em horrores e espantos quase de bruxaria. Tem manifestações e graus elementares, rudes e bárbaros, e evolui face a estádios mais refinados, mais puros e transfigurados. Enfim, pode tornar-se em suspenso e humilde tremor, em mudez da criatura perante [...] aquilo que no inefável mistério paira sobre todas as criaturas."
E eu, varão, em nome de (quase) todos os varões,
afirmo que esse é o sentimento originário
dos varões perante a mulher, inefável mistério
que paira sobre todos os varões: fluência que invade
o ânimo frágil, corrente devota e religante
delicadamente;
arroubo que estoura súbito
e irreflexivo;
como se o varão se tivesse mergulhado numa bebedeira
feliz e volúvel,
desesperado por se acovilhar sob todas as redondezas
femininas, graciosamente femininas.
O varão fica definitivo no temor, no tremor,
numa selvagem e concentrada angústia
de apenas ser varão e não lograr a pureza imaginada
da mulher ideal, da deusa protetora...