SEM RIMA 87.- ... mysterium ...
Na wikipédia em português leio uma brevíssima referência: "Rudolf Otto (25 de setembro de 1869 — 6 de março de 1937) foi um eminente teólogo protestante alemão e erudito em religiões comparadas. Autor de 'The Idea of the Holy', publicado pela primeira vez em 1917 como 'Das Heilige' (considerado um dos mais importantes tratados teológicos em língua alemã do século XX) e criador do termo numinous, o qual exprime um importante conceito religioso e filosófico da atualidade.
"Trecho de 'Das Heilige': "Uma coisa é apenas acreditar no supra-sensorial; outra, também vivenciá-lo; uma coisa e ter ideias sobre o sagrado; outra perceber e dar-se conta do sagrado como algo atuante, vigente, a se manifestar em sua atuação. É convicção fundamental de todas as religiões e da religião em si que também a segunda possibilidade é viável, que não só a voz interior, a consciência religiosa, o discreto sussurro do espírito no coração, o palpite e o anseio prestem testemunho a seu respeito, mas que seja possível encontrá-los em eventos, fatos, pessoas, em atos de auto-revelação, ou seja, que além da revelação interior no espírito também haja revelação exterior do divino". (OTTO, R. 'O Sagrado'. Petrópolis: Vozes.)"
A meu ver, uma das lições expressas na obra citada ('Das Heilige. Über das Irrationale in der Idee des Göttlichen und sein Verhältnis zum Rationalen', 1917) resolve-se na consideração do númenon (do divino... da divindade?) como "mysterium fascinosum et tremendum".
Nas minhas corriqueiras reflexões sobre o que é e não é a existência, inclusa a Vida, venho entendendo que a divindade, se pessoal, não se acha espelhada na masculinidade, mas na feminidade: deus é deusa, é mulher. Sem dúvida...
E essa reflexão firma-se e confirma-se
quando, desde a minha pessoa de varão,
observo a mulher: "mystérium",
mormente "mystérium", sobretudo "mystérium",
antes de mais "mystérium" incarnado
em cada mulher, talvez e com permissão
das sequelas educacionais dominantes,
masculinas principalmente, decerto machistas...
Mas incarnado, o "mystérium" feminino
na verdade que as mulheres proclamam
à vontade ou sem quererem, nas querências
ou silenciosamente, dia trás dia e noite trás noite,
nos abraços e nos ódios (também odeiam
as mulheres... e como!, quão terrível é o ódio
de mulher!: parece-se sem dúvida com o inferno
ou geena, que não apenas é lugar onde habitam
mortos os mortos, mas onde os viventes mortos
são torturados até reviverem no mundo infinito
dos desejos incumpridos), nos beijos húmidos
e nas carícias sentidas e naquelas cheias
de esquecimento procurado... Velai o "mystérium"
da mulher deusa, imensa, omnipotente e quase
omnisciente: Porque a mulher, as mulheres,
faz como que ignora o que conhece
com toda a certeza, agudamente, até ao fundo
da intuição soberana: sobre toda a Vida!