CISLUNAR
É tão meu o vão abissal,
o absoluto silêncio ensurdecedor,
o voo noturno em total breu.
É tão meu esse segundo dissoluto,
o produto do meu sigilo gritante,
o sal do sol do meu céu.
É tão minha a curva ondulatória,
a hora permissiva da revoada,
a chuva que lava meu imo ao léu.
É tão minha a exclamação peremptória,
as letras que insistem em ruminar,
os vocábulos desnudos bailando no céu.
É tão meu o grito epistolar,
o girassol que gira sem eixo,
o suspiro enclausurado no peito como réu.
É tão meu o sopro que se renova,
o cislunar que transita em minhas luas,
o sabor agridoce do pseudo mel.
O meu 'eu' é tão meu,
é tão meu esse medo quieto inquietante,
o meu saber de não saber quem sou eu.
Tudo que dorme em mim é tão meu.