CISLUNAR

É tão meu o vão abissal,

o absoluto silêncio ensurdecedor,

o voo noturno em total breu.

É tão meu esse segundo dissoluto,

o produto do meu sigilo gritante,

o sal do sol do meu céu.

É tão minha a curva ondulatória,

a hora permissiva da revoada,

a chuva que lava meu imo ao léu.

É tão minha a exclamação peremptória,

as letras que insistem em ruminar,

os vocábulos desnudos bailando no céu.

É tão meu o grito epistolar,

o girassol que gira sem eixo,

o suspiro enclausurado no peito como réu.

É tão meu o sopro que se renova,

o cislunar que transita em minhas luas,

o sabor agridoce do pseudo mel.

O meu 'eu' é tão meu,

é tão meu esse medo quieto inquietante,

o meu saber de não saber quem sou eu.

Tudo que dorme em mim é tão meu.

Aglaure Martins
Enviado por Aglaure Martins em 25/04/2012
Código do texto: T3633189
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